7h03 da manhã e meu despertador do celular toca. Música nova, ainda não me acostumei com ela, fui perceber de fato q era pra acordar às 7h06. Domingo, tão cedo, eu queria mesmo continuar na minha cama. Mas eu tinha um compromisso. Tinha que me arrumar e ir votar.
Veja bem, me arrumar.
Eu sempre fui uma pessoa desencanada. Até meus 18 anos, eu mal me olhava no espelho. Tinha a juventude a meu favor, era atleta, saudável, me alimentava bem, dormia bem, trabalhava pouco, treinava muito.
Lembro que a última vez que fui votar eu acordei, escovei os dentes, coloquei uma bermuda, um óculos escuro, havainas e fui. Simples assim. Mas pra que me arrumar pra ir votar??
Bem, eu voto no Carmo.
É no Carmo que a maioria das pessoas bonitas, ricas e babadeiras de Santos votam. Donas de agências de modelos, pessoal que trabalha na televisão, escritores de colunas do AT Revista, diretores de colégios, mulheres que casaram com homens ricos (e transferiram seus títulos da zona noroeste pra cá) e claro, bixas metidas a rica.
Todos meus amigos da época de colégio também votam lá. Todos meus vizinhos votam no carmo. Toda a galera do canal 6 e 7, da ponta da praia, votam no carmo. Ir votar é quase como um encontro da turma de formandos de 1998 do Jean Piaget. Eu queria estar bonito!
Então acordei, tomei um super banho, passei óleo no corpo, esfoliante no rosto, lavei meu cabelo com shampoo de chocolate (sem sal). Sequei meu cabelo, escolhi a roupa (mas mudei de opinião 3 vezes), tomei um super café da manhã, pra não parecer com cara de ressaca e fui.
9h30 e eu chego próximo a rua do colégio. Próximo significa 2 quadras antes. E já estava um caos. Um ano e cinco meses morando fora e eu não contava como a população se multiplicou no bairro da ponta da praia. Eu também não contava que o Papa e Mariângela Duarte votavam lá. E resolveram votar justamente no mesmo horário que eu. A imprensa estava alucinada na porta do colégio. A rua estava parada, as pessoas quase entrando pelo vidro do meu carro, e eu, a ponto de perder minha elegante paciência. Mas não podia, eu tinha que estar bonito, afinal demorei meia hora pra arrumar meu cabelo e deixar ele com ar de bagunçado e quebrei a cabeça pra achar um visual descolado-urbano-casual.
Não achei lugar pra estacionar e tive que deixar o carro em frente a casa da moça que faz a unha da minha mãe. Toquei e pedi gentimente pra deixar meu carro lá, já que estava impossível achar uma vaga ali por perto.
Ainda na rua, há apenas alguns passos da entrada do colégio encontro Clô. Clô, da agência by Clô. Surpreendentemente ela se lembrou de mim, e disse que eu estava belíssimo. Claro que ela fala isso pra todo mundo que já foi modelo da sua agência, porque na verdade ela quer manter o vínculo e ter sempre modelos no seu casting e dinheiro no seu bolso. Mas mesmo sabendo disso, as palavras dela massagearam meu ego. Depois de entrar no colégio encontrei todo o pessoal do teatro, sentado no pátio, vestindo camisetas iguais, alguns amigos do Jean Piaget, alguns colegas da ginástica, alguns pais de alunos, alguns alunos que já votam e muita gente do dia-a-dia que vejo, cumprimento, mas sequer sei o nome. Encontrei tb ex's. Muitos ex's. Ex-alunos, ex-amigos, ex-colegas, ex-casos e ex-amores. Eu nem me lembrava que tinha tantos ex-amores.
Na sala onde eu voto tinha uma menina trabalhando que estudou no Santa Cecília. Não era da minha sala, era um ano mais nova. Mas lembrou de mim. E eu também lembrei dela. Ela era loira, bonita, usava aparelho nos dentes. Ela continua loira. Não no mesmo tom. E ainda é bonita, não tanto quanto era na época do colégio, mas já não usa mais o aparelho.
Votar durou no máximo 15 segundos. Foi bem rápido, nem deu pra curtir o momento. Quando acabei de votar tive vontade de voltar e fazê-lo denovo, mas dessa vez curtindo. Mas não pode, né?
Na volta passei pelo pátio e falei com o pessoal do teatro, que me recebeu calorosamente e perguntou o porquê da minha ausência da terrinha. Eu, claro, disse que estava em outros projetos em São Paulo, e que volto pra Santos em breve, e consequentemente ao teatro. E logo mudei o assunto, perguntando se ainda existia o "rolidei".
Quando virei as costas, senti um alívio por não ter continuado, senão eu seria um deles alí, vestido com camiseta amarelo limão, querendo divulgar o grupo.
No corredor que dá acesso a saída um aglomerado de pessoas disputavam aos tapas um lugar.
Muitos flashs, muita luz, muito falatório e empurra-empurra. Os reporteres se espremiam com seus microfones, cinegrafistas empurravam com seus equipamentos, fotógrafos subiam nos bancos para achar um melhor ângulo. Populares queriam um abraço do seu candidato, e os candidatos queriam abraçar os populares para aparecerem na foto. "Robert's" lutavam por um espaço para aparecer ainda hoje, de figurante no jornal da Tribuna - segunda edição. E eu, bem, eu:
- Quais são suas expectativas para os próximos quatro anos?? - pergunta a repórter já enfiando o microfone na minha boca.
- Hã?!? É... hmmm. (queria tirar o óculos escuro e ajeitar meu cabelo, mas não dava tempo)Espero que elejamos a pessoa certa pra governar nossa cidade. E... bem... que...
- Obrigado! - e a repórter vira e continua sua matéria.
Enfim, cumpri com meu direito de cidadão, dei o ar da minha graça antes que as pessoas esquecessem que eu existi um dia, apareci bonito e ainda num flash "ao vivo" da programação da TV Tribuna. Olha que bárbaro.
O que mais eu poderia querer de uma simples manhã de domingo???
domingo, 5 de outubro de 2008
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4 comentários:
eu não me arrumei pra votar porque onde voto se eu aparecesse de ressaca e mal arrumado ainda estaria lindo!
e você teve um belo dia de domingo hein?
beijos moço.
ps: e a foto se você quiser te mando por email.
o meu foi assim, atravessei a rua, prenchi o papelzinho tinha 2 pessoas na frente, justifiquei, almocei e to em casa de novo!! hahahahhaah
Quase um dia qualquer!!! hauhauhahua
aff!!! que babado e que agito a sua votação... isso que é ter classe... hehehe...foi todo poderoso e arrasou... é isso ai...
A imagem é tudo e as pessoas não se dão conta disso. Temos que estar sempre bem arrumados, em qualquer ocasião, porque nunca sabemos que oportunidades surgirão a nossa frente.
E a entrevista comprou isso... pense agora se você estivesse todo relaxado....
Valeu pela visita....abs:-)
nossa.... cansei auhhuahuaa. eu ate que me arrumei tb... mas eh porque eu tinha um almoco e não queria passar de volta em casa depois de "justificar" meu voto. Depois quero saber como é um visual descolado-urbano-casual. Eu to na fase "mergulho no guarda-roupa". O que saiu, saiu.
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